As mãos, braços e abraços entre pai e filha não se deixam largar por muito tempo. Os olhares são de atenção, respeito e afago constantes. Em poucos minutos na presença de Éryca Kaylla e Adailton Baião Paes Landim, fica claro que, ali, há uma relação de amor que transborda. Mas para que esse amor pudesse vir à tona, o tempo exigiu paciência. Foram necessários 24 anos de espera para que pai e filha, separados antes mesmo do nascimento da primogênita, pudessem se conhecer. Após tentativas recorrentes, o encontro aconteceu, por intermédio das redes sociais, há dois meses no município de Amarante, Sul do Estado.
“Desde meus 17 anos, eu comecei a procurar por ele através das redes sociais. Usei Orkut, Facebook e tudo que pude para procurá-lo. Quase cheguei a desistir, mas nunca perdi a esperança, depois de muitas tentativas, enfim, consegui encontrá-lo”, destaca a jovem.
(Foto: Jailson Soares)
Éryca é fruto de uma rápida relação entre Adailton e sua mãe, quando ambos, no início da década de 90, moravam em Goiânia, no Estado de Goiás. Após se descobrir grávida, a mãe da jovem retornou para o Piauí e perdeu totalmente o contato com o pai da jovem. “Eles só trocaram uma única correspondência e até hoje eu guardo o envelope com o nome completo dele. Era só isso que eu tinha: o nome completo dele. Minha mãe enviou uma foto minha de criança e isso também era a única coisa que ele tinha minha”, explica Éryca.
Na adolescência, a jovem começou a buscar pelo pai com o uso das redes sociais. Mas as buscas, por muito tempo, não deram em nada. Foi quando, há pouco mais de três anos, ao colocar o nome do pai mais uma vez nas buscas do Google, ela encontrou os dados de uma empresa que ele havia aberto. “Ali, eu tive esperanças mais uma vez”, afirma.
Éryca conseguiu entrar em contato com a contadora que havia aberto a firma, mas não conseguiu nenhuma indicação de telefone ou endereço através disso. Apesar de contrariada, um dado novo aparecera daquela mais nova fagulha de esperança: a cidade onde o pai provavelmente estaria morando, era na Bahia, o município de Campo Alegre.
(Foto: Jailson Soares)
“Foi quando fui buscar no Facebook a página da cidade para saber se ele seguia, mas não encontrei. Falei com o administrador para saber se ele conhecia algum Adailton, mas o rapaz, que se chama Diego, não conhecia, mas se comprometeu a procurar. Uma semana depois, ele entrou em contato comigo dizendo que havia encontrado o sócio do meu pai”, afirma.
Com isso, a jovem conseguiu, enfim, o contato do pai, mas o medo da rejeição impediu que ela entrasse em contato de forma mais direta. “Não tive coragem de ligar, eu senti muito medo de rejeição e de ele não querer me aceitar. Por isso, só mandei uma mensagem”, relembra. No entanto, a resposta não veio para ampliar os medos de Éryca, mas para expurgá-los.
“Eu pedi que ela me ligasse e não tinha dúvidas que ela era minha filha. Fiquei muito emocionado quando recebi a ligação dela”, relembra Adailton.
O encontro
Éryca foi criada pelos avós no município de Beneditinos, mas, atualmente, mora em Teresina. Adailton, apesar de morar na Bahia, é natural de um município no extremo Sul do Piauí.
“Ele disse que não poderia vir a Teresina porque minha avó, a mãe dele, iria fazer uma cirurgia em Amarante, mas pediu que eu fosse até lá. E eu fui. Peguei o ônibus sozinha e fui”, lembra.
Na rodoviária, ao descer do ônibus, a emoção veio à tona. Mais de vinte e quatro anos depois, foi a primeira vez que pai e filha puderam trocar um abraço.
(Foto: Jailson Soares)
“Eu passei a vida pedindo a Deus para encontrá-lo. Durante todo esse tempo, o Dia dos Pais era uma das datas mais tristes. Foi difícil, mas conseguimos nos encontrar e, agora, é só alegria”, constata a jovem.
Adailton conta as semelhanças que vê na filha consigo. “Ela tem a boca como a minha quando eu era jovem, tem os traços da minha mãe. As pessoas ficam dizendo que preciso fazer o exame, mas não preciso, ela é minha filha”, afirma.
Éryca tem 25 anos e Adailton, que constituiu família dois anos depois de conhecer a mãe da jovem, tem uma filha também chamada Éryca de 22 anos. “Eu sempre quis que minha filha se chamasse Éryca, hoje tenho duas filhas maravilhosas e um filho de 15 anos e eu quero ser um pai da mesma forma para ela, que fui para meus dois filhos”, afirma, acrescentando, emocionado, “Hoje a Éryca tem um pai”.
Atualmente, pai e filha acompanham a recuperação do avô da jovem no Hospital de Universitário em Teresina, onde a aproximação de ambos tem ficado cada vez mais latente. Os planos, agora, são todos de celebração. “Quando meu pai se recuperar, vamos fazer uma festa para ela conhecer toda a família. O carneiro já está engordando”, comemora Adailton.
De agora em diante, as redes sociais continuam fazendo parte da vida de pai e filha, mas só para ficarem cada vez mais próximos. Trocas de mensagens diárias, ligações e compartilhamento de rotinas, alegrias e dificuldades mostram que a relação, daqui em diante, é de constante presença. “O amor sempre foi o mesmo. Mesmo longe, o coração sempre esteve perto”, finaliza Éryca.
Fonte: Portalodia.com /Glenda Uchôa